sábado, 25 de outubro de 2014

O Amor feito espelho

Provavelmente já se ouviu dizer que se ama por cumplicidade, similaridade, afinidade. Traduz-se o sentimento no espelho. Gostamos do que vemos refletido no outro, porque é ali, no seio de outro ser que observamos nossa alma refletida. E ali passamos horas a fio, a admirar e querer aquilo que nos é tão recíproco e similar: nossa semelhança. Como na lenda de Narciso, que se apaixonou por sua imagem refletida na água e assim é. 

Muito do amor é traduzido no outro naquilo que vemos de nós. E identificamos os medos, as vontades, a personalidade forte, aquilo que nos desafia, que enfrentamos em nós ou que buscamos ter está tão nitidamente ali desenhado no outro, no nosso objeto amado enfeitado e traduzido à nossa semelhança. Quer seja nos defeitos, quer seja nos valores, quer seja no que enxergamos de bom e naquilo que mais gostamos, assim é porque nos refletimos nos pequenos detalhes esculpidos na maravilhosa essência do outro. 



E é nessa tradução do sentimento, através do outro, que nossos rumos e desejos se formam. Nosso ensejo de vida se desenha. Por isso, tão apressadamente vem a paixão que nos obriga a ver, de frente, as características mais marcantes do outro num desafio da entrega de si mesmo, como num choque: ele tem o que admiro, ele traz o que mais preciso, ele me traduz e me entende, nos afinizamos. E assim acontece. 

O amor é feito espelho, que nos esculpe e regenera, que nos enfeita e nos marca, que nos individualiza perante a forma, ainda que diversa do outro, mas que tão nossa e tão perfeita e que tanto nos identifica por ser peculiar e permanentemente obra da nossa conceitual realidade amorosa. E ali, somos feitos e pegos como reféns de alguém, que nos conhece e nos traduz, de forma tão farta, ainda que abstrata. Por isso o amor nos complementa e nos conforma, nos concede à vida uma forma toda especial e diversa. Mágica.


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