sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Intercorrências

Por vezes a vida intercede de modo errado. Por alguns minutos é certo que temos ali, diante do nosso coração e do nosso mundo real aquela felicidade de fato, há tempos esperada e ali, bem diante de nós e, no entanto, a vida caminha diferente dos nossos propósitos e tolhe o caminho, derrapa na esperança. Por motivos de força maior. 

Nunca estamos preparados para isso. E isso dói tanto. É uma perda, é uma ruptura, é um estrago. O peito racha em pedaços, os olhos se afogam de uma saudade tão intensa quanto a própria esperança, antes tão desejada e querida. O dia vira noite em segundos. A semana parece a eternidade. Um mês nos deixa em pó e em frangalhos apenas na influência da intercorrência que nos atropelou e ninguém anotou a placa. 


O coração não estava preparado. O sentimento não havia sido avisado. O tempo rompeu-se. O futuro evadiu-se. O que era para ser nunca chegou de fato. É uma dessintonia se puder existir essa palavra no sentido de que a sintonia parou de pulsar em um dos lados antes da nossa chegar perto. É a dor que chega. É o pranto que sufoca. É o sorriso que se apaga. É o abraço que nunca se deu e se vai. 

As intercorrências provocam o desamor, a dessintonia, o desespero do tempo que não vem mais. E a vida para bem ali, naquela curva. O vento para de soprar. O sol para de amanhecer. O abismo invade o peito. Os dias são longas noites. A saudade é a companheira mais fiel. Irmã da dor. E de tudo aquilo que é tão sentido e ao mesmo tempo, não faz sentido em ter sido atropelado, perdido, roubado. E a noite se faz fria, ainda que no calor do verão que não mais aquece, porque não se esquece do que não se viveu. 

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Você

"De repente a dor
De esperar terminou
E o amor veio enfim

Eu que sempre sonhei
Mas não acreditei
Muito em mim

Vi o tempo passar
O inverno chegar
Outra vez
Mas desta vez

Todo pranto sumiu
Um encanto surgiu
Meu amor

Você
É mais do que sei
É mais que pensei
É mais que esperava
Baby

Você
É algo assim
É tudo pra mim
É como eu sonhava
Baby

Sou feliz agora
Não, não vá embora
Não
Não, não, não, não não
Não, não, não

Vou morrer de saudade
Vou morrer de saudade
Vou morrer de saudade..."

Tim Maia

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Fim do dia

É no fim do dia
que me perco no tempo
para me achar
no norte da tua alegria

Olhar teu sorriso
encantado jeito, tão menino
que me irradia tanta paz
me faz luz

É no fim do dia
que me encontro
perdida em meio a tua alegria
te olhar nos olhos: encanto

Olhar puro e de brilho
sorriso imenso: magia
me perco na tua alegria
em todo dia que me finda

Dessa alegria que me vem
e me encontra, tão sua
no fundo do meu pensamento
E me encerra o dia

É no teu jeito
Imerso, na tua alegria
que me procuro e te acho
e assim refaço-me de vez, todos os dias.

Sobre o Amor

Amor não é o que termina, não é o que dissolve, não é o que se perde na rota do tempo. Perdemos as paixões, efêmeras como um raio em meio à escuridão. Perdemos aquilo que de nós achávamos ser bem próprio, mas como pessoas não são coisas, então, nenhum objeto é digno do Amor. Porque o Amor é algo sublime, algo maior. É aquilo que não se desfaz pelo tempo e não dependerá de qualquer sintonia para que vibre, porque a sua essência é independente, forte, única e inalterável. O término do Amor pode ser temporário, porque a indicação que ele ao menos existiu sempre o fará reacender no momento seguinte.  

Os caminhos que se chegam ao Amor nem sempre são certos, não são comuns e menos ainda inteligíveis algumas são as razões do porquê ele acontece. O que importa é a tradução. É o que ele reverbera no âmago e a vontade que dá em prosseguir. Porque o Amor é amplo e magnânimo. É maior que qualquer desistência. É maior que qualquer incoerência. É maior e suplanta qualquer dor. Aliás, se dói tanto é porque não é Amor. O Amor tem razões para florir dentro do peito, fazer florir e se espalhar e não doer e maltratar. 


Toda a natureza é permeada de Amor. É só olhar ao redor e captar nos sensos estéticos da Criação que o Amor é o que lhe inspira belos cenários, os dias de sol radiante, o colorido das flores, a pluralidade infinita que se perde no azul do céu profundo, o mar que colide em suas explosões e nos faz sentir a alma vibrante e revigorada, os animais em sua singeleza e amenidade dos dias em que seguem suas vidas tranquilos em suas obrigações naturais. Sim, as obras da Criação são puro Amor, assim como nós, apesar de tão imperfeitos, nos lapidamos aos sons dessa mesma melodia interior. 

E o Amor segue. Constrói e vivifica. O Amor cresce a medida em que se multiplica universalmente. O Amor é doação, entrega, troca, crescimento, compreensão, afetividade, alegria e afeto mútuo. O Amor não sabe ser egoísta ou perverso. O Amor não manipula e não desencoraja. O Amor sublima qualquer dor. O Amor traz a voluntariedade ao coração. O Amor traz esperança e se embriaga de fé. O Amor é plenitude e esteio, é alicerce e ponte, é escada e iluminação. A cada toque de Amor no coração estamos mais perto de sermos aquilo que devemos ser. Seres humanos obstinados ao bem maior, à evolução e à fonte de um futuro permeado de igualdade, de benevolência e de paz. Só o Amor é real. Nada, além dele, irá subsistir e continuar. O Amor é início, meio e fim. O Amor é destino certo e sempre chega. 

domingo, 26 de outubro de 2014

Amanhã é outro dia

Sim, amanhã é outro dia. Renascem as esperanças, renascem as alegrias, renascem as buscas pelo melhor. Amanhã é outro dia, aqui e em todo lugar. Um novo dia. Mas o amor ficará aqui para sempre, na força das palavras, que serão ditas, que serão sentidas, que estarão entre a sintonia, desse amor e do tempo. As palavras têm esse poder de eternizar e deixar para sempre aquilo que não se quer esquecer, que não se pensa em deixar. E essas palavras serão sempre e terão o intuito desse permanecer, de manter o amor. 

Porque o amor, o sentimento, a paixão, o melhor sempre é o que deve ficar. O poeta nasceu com a exigência de trazer na alma todo o traduzir daqueles que nunca se perdem. E ele faz isso com as palavras, essa mágica de deixar registrado. Mas como nem sempre toda poesia é amor fácil, toda poesia é amor simplificado. Muitas das poesias são de saudade, são de falta, são de dor. E o poeta é aquele que nunca poderá desistir do amor. Para ele o amanhã nasce novo, mas o amor é o que nele permaneceu permeado dos sabores de ontem. 




Sabemos que no amanhã se inicia tudo. No amanhã tudo renasce. Poderá também, da mesma forma, para o poeta que se perde entre a sua sintonia, o amor e o tempo, amanhecer outro dia. Mas ainda na aurora, nos primeiros raios que chegam, ele vai trazer a lembrança do amor que permanece. E cabe a ele transformar esse amor no que melhor ele puder: lembrança, saudade, lágrima, estrofe, verso ou sentido de realidade. 

Amanhã é outro dia, assim sempre será. Para o poeta também será. E o seu coração se vê assim, a cada dia, indefeso desse renascer, porque o mínimo que ele poderá fazer é transformar o amanhã dali de dentro dele. Porque o poeta sempre sabe qual a melhor forma de transformar o amor. 

Do sentir muito

É paradoxal dizer essa frase: sentir muito, no intuito de se desculpar. Porque quando se sente e não se sente pouco, é porque se sente muito. Mas então como e qual razão em se dizer que se sente muito ao se desculpar. Sente-se muita compaixão ? Pena ? Tristeza ? Indefinição ? Ou na verdade se diz por que não se sente ? Num mundo com o qual nos deparamos hoje é preciso que se sinta, sim, muito. 

Mas esse sentir muito deve ser no sentido de sentir mesmo, na essência do que se sente, do que se observa. E principalmente, que esse sentir, seja essencialmente amor. Amor, independente de qualquer coisa. Amor no sentido amplo da definição maior que ele tenha. Algo do tipo: "meu amor é tão grande por sua pessoa que eu sinto..." 



Não devemos nos sentir culpados por sentirmos muito. Aliás, é isso o que nos diferencia, os sentidos, o amor, a compaixão são todos os elementos que nos diferenciam de forma maior. E o fato de sentir muito só comprova o tamanho dessa diferenciação. 

A vida nem sempre é fácil e ela, insistentemente nos obriga a sermos fortes. Nos obriga a sermos fortes e diante de muitas coisas, no dia a dia, ao longo do tempo que passa por nós sempre atarefado, ela nos obriga a sentir, entrar em contato com tudo o que nos cerca e o sentir é o que vem primeiro. O sentir é parte da alma e é sempre por isso que só podemos sentir muito. E, por vezes, o sentido da partida, ao longo do tempo, é o que dói mais. Sentir que o outro se foi... Sentir que o outro não faz mais parte. Sentir que o outro já não se faz presente. Sentir essa ausência é uma grande parte do sentir muito.


Do futuro preso no tempo

O futuro preso no tempo é aquilo que não veio. É algo que se encaminhou mas que tomou um atalho, desviou-se do caminho. O futuro preso no tempo é aquilo que falta, mas traz sempre uma esperança em seu âmago. Tem um gosto incógnito e árduo de futuro incerto, mas que pode vir a ser... O futuro preso no tempo dói na garganta por ter emperrado o grito, dói na mordida dos lábios que não se encontraram, dói no aperto do abraço ainda não sentido. 

O futuro preso no tempo é amor sem sintonia. É amor em espera, aguardando na fila. E a fila anda, mas, por outras vezes ou puro capricho da vida pode demorar. Demorar passos de eternidade. Daí deixa o futuro assim, preso no tempo de não vir. É um futuro impedido de conjugar verbo. É um futuro impedido de conjugar amar, querer, gostar, sentir, ficar, tocar, ver... É um futuro imperfeito, um futuro do pretérito sem conjugação correta. 



O futuro preso no tempo é, na verdade, mais futuro do que tempo. Porque o tempo, mais cedo ou mais tarde, acaba vindo. O futuro preso no tempo já diz o verbo: está preso. Preso e represado no peito. Um nó escuro nos olhos. Um oculto afago na alma. Um sussurro mudo. Um vão no tempo, um oco. O futuro preso no tempo soa muito falso. Soa estranho, soa dolorido, quase uma cãibra. 

É um tempo que nunca passa, porque nunca chega. E nos faz observar a vida com certa esperança, mas uma esperança meio ressecada e dolorida. Porque dá medo. O futuro preso no tempo é carregado de incertezas, de senão, de ais, de desconsolos... Trava o riso. Paralisa o encontro. Modifica o dia. Muda o humor e nos faz querer dormir e sonhar. Porque o futuro preso no tempo pode chegar amanhã, ou na semana que vem, ou daqui dois meses ou nunca mais. E ser futuro para sempre, perdido em meio a uma esperança louca, que não nos deixa pensar no sentido do tempo que se perca.